18 de janeiro de 2010

"Sei que meu Redentor vive e ... se levantará sobre a terra"

Acontecimentos como o terremoto ocorrido recentemente no Haiti deveriam nos levar a refazer algumas de nossas orações, rever as ministrações de louvor e as declarações feitas em nossos cultos e a repensar aquela nossa maneira tão seletiva e tendenciosa de ler a Bíblia só buscando as promessas divinas.

"No mundo, vocês terão aflições, mas tenham bom ânimo; eu venci o mundo." Ser filho de Deus não nos isenta de passarmos por situações difíceis. A salvação não é um passaporte para transitarmos neste mundo, levando uma vida livre de preocupações e de receber surpresas desagradáveis, más notícias ou viver grandes tragédias. Todos nós, uma hora ou outra, podemos ser surpreendidos pelo "dia da adversidade", pela dificuldade; pode ser um filho ou marido viciado, um divórcio, um diagnóstico de câncer ou qualquer outra doença grave, um assalto etc.

Se o fato de ser filho de Deus nos isentasse de tribulações, talvez facilitaria muito o serviço cristão; seria muito mais fácil pregar, conduzir o louvor congregacional, evangelizar e discipular; afinal, qualquer pessoa gostaria de ter uma vida livre de doenças, dificuldades familiares e financeiras. Como humana que sou, gostaria que fosse assim, mas não é. Temos o privilégio de receber bênçãos do Pai celestial e poder desfrutar delas, mas, de igual modo, não estamos livres de viver experiências, às vezes, terríveis nesta vida. Não há receita nem segredos. Não há palavras mágicas, declarações de fé, campanhas, jejuns ou "oração de poder" que nos possam imunizar, a fim de que nos livremos de viver momentos difíceis nos seus mais variados níveis.

- Que teologia é essa que dita regras a Deus e impõe a ele "o quê", "como" e "quando" deve fazer ou não determinada coisa?
- Que fé estranha é esta que dá ordem à divindade?
- Que falta de educação por parte de alguns cristãos, de determinar que Deus aja desta ou daquela maneira (com suposta base bíblica e tudo o mais!)!

- Não deveríamos entender que tudo o que somos e temos é porque Deus é gracioso, bondoso?
- Não deveríamos nos curvar e adorá-lo pela eternidade pelo fato de ele não nos retribuir segundo nossos pecados, e sim nos tratar conforme a sua misericórdia?
- Não deveríamos servi-lo com devoção amorosa, pelo fato de não termos sido consumidos?

Um repórter perguntou a um cristão haitiano, preso entre os escombros do que fora um dia uma escola, alguma coisa como: "O que você acha que vai acontecer agora?" ou "O que vc espera que aconteça agora". Ao que ele respondeu: "Não sei. Só sei que minha vida está nas mãos de Deus".

Este homem parece ter entendido muito bem que "chova ou faça sol", Deus está no controle. Ele ainda governa soberano sobre todas as coisas, ainda que nosso mundo possa, literalmente, desabar sobre nossa cabeça. Nada o pega de surpresa. Esse haitiano parece ter entendido, como Jó, que o Redentor ressuscitou e está vivo e, em breve, irá manifestar-se.

"Não que eu já tenha alcançado a plenitude..." Faço minhas essas palavras de Paulo. Não entendo quase nada sobre adversidades. Das desgraças da vida, pouquíssimas, embora não insignificantes, atingiram minha família; elas nos atingiram em cheio como se fossem um soco de Make Tayson. Ainda sofremos as consequências dessas coisas terríveis. Mas, longe de mim declarar isso ou aquilo ou ordenar a Deus que faça desse ou daquele jeito. Como família, temos decidido perseverar em oração. Clamar, humildemente, a Deus que, por sua misericórdia infinita, salve a nossa "casa". Pedimos como um filho deve pedir ao pai, firmado não no merecimento filial, e sim na bondade do pai. Estamos batendo, pedindo, buscando, e cremos que Deus agirá; não porque somos especiais ou tenhamos algum mérito, mas porque Deus é bom.

Fidelidade incondicional a Deus é o meu e o seu grande desafio para a vida toda. Jó disse: "Ainda que ele me mate, nele esperarei..."

"Eu perdi tudo e estava falido, mas agora tenho uma empresa bem-sucedida, carro zero e uma gorda conta bancária."Diante de "tristimunhos" como esse, televisionados diariamente, e que tanto cansam nossos ouvidos (pelos menos os meus cansam muito), crer sem a contaminação da partícula condicional "se" é andar na contramão.

- Precisamos aprender (a todo momento) que Deus não tem obrigação alguma conosco. Nós é que temos com ele uma dívida impagável, mas ele não.
- Precisamos lembrar que mesmo se Deus nos tirasse todas as bênçãos (o ar que respiramos, a vida em família, o suprimento de nossas necessidades básicas etc.), ele ainda assim mereceria toda a honra, todo louvor, toda a adoração porque ele nos comprou pelo preço do seu sangue.
- Deus não nos deve nada! Tudo o que somos e temos recebido é porque Deus é bom e gracioso!
- Todos os livramentos, as curas, as libertações que vivemos e/ou presenciamos é porque Deus é rico em misericórdia e amor, e não porque ele nos deva favores. Mesmo a salvação, que é promessa de Deus a todo o que crer em Jesus, é, no final das contas, fruto da graça divina, e não resultado de nossas declarações ou orações fervorosas.

Digito essas palavras "com temor e tremor", pois, como você, não estou livre de ser alcançada pela adversidade. Sei porém que, a cada dia preciso crescer e amadurecer. Preciso firmar cada vez mais os meus pés na Rocha e manter meus olhos fixos no meu Deus, o Amado da minha alma.

- Como estaria a minha fé, e a sua, se fôssemos cidadãs haitianas?
- Continuaríamos servindo ao Senhor, se tivéssemos ficado presos entre os escombros por 1, 2, 3, 4 ou 5 dias, como tantos ficaram (e talvez ainda estejam)?
- Será que eu continuaria crendo que Deus é meu Pai de amor, se tivesse perdido meu filho, marido, mãe, pai ou irmãos nesta tragédia haitiana ou no acidente em Angra?
- Será que você e eu permaneceríamos fiéis em toda e qualquer situação?

É difícil viver uma vida cristã centrada no que Deus é. É difícil buscar muito mais a Deus do que as bênçãos que ele pode nos dar. No entanto, em meu parco entendimento, é assim que Deus deseja que o busquemos.

Nossa fé deve ser puramente bíblica, além de estar colocada no objeto certo. Crer é importante, porém é crucial sabermos "em quem cremos" e "como cremos".

"Senhor, acrescenta-me a fé!".

A serviço do Rei e de seu reino.

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