9 de dezembro de 2018

A síndrome de Simão

Em dias quando se tem liberdade de expressão e nos quais cada um acha que tem direito de dizer o que quer, da forma que quiser a quem quer que seja, pessoas são rotuladas o tempo todo. Algo triste de se ver; mais triste ainda de sofrer e fazer.

Já não se define o outro pelo que ele é, de fato, em essência, mas pelo pecado que cometeu e o erro em que incorreu (ainda que tenha sido uma única falha, uma única vez), a vitória que não alcançou, a deformidade que carrega no corpo... Rotula-se não só por algo negativo, mas também por algo aparentemente bom e verdadeiro: o ricaço (ainda que a pessoa seja a mais miserável de todas), o bonitão/bonitona (ainda que a beleza seja apenas exterior). Ela/ele é tão feliz. Que família linda eles têm (mesmo que tudo isso seja só fachada e que na intimidade do lar, ao deitar a cabeça no travesseiro, essa pessoa sinta-se a mais infeliz de todas).

Acabamos por ser reduzidos ao que fizemos ou deixamos de fazer e não pelo que somos. E mais grave ainda: somos rotulados e rotulamos, sem levar em conta o que alguém pode ser em Cristo. É a síndrome de Simão (que julgou Maria pelo seu pecado anterior, sem considerar a intervenção de Jesus em sua história e a transformação que realizara em sua vida). É ser guiado pela superficialidade e chegar ao nível mais alto de desprovimento da graça divina. A graça jamais desperdiça quem quer que seja. Ela se derrama copiosa sobre todo ser humano... Ela busca incansavelmente o que se perdeu...Ela estende perdão ao mais vil pecador... Ela não faz distinção. A graça é abrangente, profunda, ampla e alta.

Rotular revela incredulidade. Quem rotula está desprovido de fé no que diz respeito ao poder de Deus de transformar o ser humano. É não crer no Deus que é poderoso para salvar completamente o pecador e torná-lo tudo aquilo que, em seu amor, o Senhor planejou pra que ele fosse.

Ah, como carecemos de conhecer a graça do Salvador! Quanto necessitamos não só de aprender mais sobre ela, mas, principalmente, de experimentá-la até às últimas consequências.
Como precisamos ser generosos ao estender a graça ao nosso próximo. Quanto carecemos de ouvir o coração do Pai e agir no compasso que ele bate. Só assim deixaremos de expor o outro, tomando-o apenas parte pelo todo (o que ocorre apenas para tirar os holofotes de nossas próprias incorreções, que podem ser mais graves que as dele).

Que Deus nos ajude a conhecê-lo mais e mais. Que entendamos melhor a graça maravilhosa que nos alcançou, para assim poder manifestá-la a outros.